A poucos dias da esperada estreia na Segundona, o Friburguense pode considerar que passou por uma tormenta das mais complicadas em sua preparação. Sem dinheiro em caixa para investir em um time reforçado, o gestor de futebol Siqueirinha ainda viu a possibilidade de deixar o clube, devido a uma proposta do ex-jogador argentino Darío Conca para assumir a equipe. A proposta, porém, foi vetada pelos conselheiros.
Isto porque Siqueirinha está no clube há mais de 20 anos e vem tocando, praticamente sozinho, o futebol tricolor desde então. Ele admitiu, em entrevista ao jornal ‘A Voz da Serra’ que pesou o carinho pelo clube para não desistir de continuar. Além do mais, ele afirmou que a proposta apresentada por Conca não contemplava um planejamento para a Série A2.
— Eu continuo porque não foi apresentado, na reunião, nenhum tipo de trabalho para a Série A2. Quando se fala de uma pessoa como o Conca, logo se imaginam melhorias físicas, dentro do seu patrimônio, ou uma grande comissão técnica e alguns jogadores. E isso não foi apresentando em momento nenhum. E esse possível grande trabalho poderia angariar votos para a nova gestão, com uma chance de chegar à Série A. Porque é ela que dará tranquilidade para trabalhar e colocar a gente na vitrine — diz Siqueira, prosseguindo:
— Permaneço no trabalho porque vi a possibilidade de o Friburguense ter derrotas por WO, cair para uma Série B1, disputada neste mesmo ano, e até para uma B2. Esse é o trabalho que estou fazendo para tentar evitar isso. Se tem contrato ou não, discutimos depois. Eu nunca me preocupei com isso. Não quero deixar o Friburguense ser entregue sem critério.
Confira abaixo outros pontos da entrevista de Siqueirinha ao ‘A Voz da Serra’:
Jovens ganhando espaço no elenco
— A gente tinha uma base muito boa, fizemos um excelente campeonato Sub-20 no ano passado e temos alguns garotos daquele time. Inclusive, alguns já jogaram no profissional. Trouxemos de volta a sabedoria do Gerson Andreotti, em especial na forma de conduzir o trabalho com os garotos e alinhar o pensamento na forma de o time jogar. Briguei bastante para trazê-lo e, graças a Deus, tivemos sucesso.
Jogadores que reforçam o elenco em 2023
— Em cima do que foi produzido e tivemos de resultados, trouxemos o Jhonata, o Maurício e o Lucas Mineiro, que são mais experientes. Temos sempre aqueles que nos disponibilizam alguns jogadores, e o Volta Redonda vai nos mandar três atletas. O Serra Macaense, outros dois. Tudo isso numa velocidade que mais de 20 anos de mercado podem te dar.
Dificuldades financeiras para montar o elenco
— O torcedor sempre pergunta: vai ser um time para subir ou para cair? Quando a gente coloca isso, é falta de amadurecimento de nossa parte. O que parece ser ruim pode subir, e o que parecer bom, cair. A questão é o trabalho, como fizemos em 2019, e efetivamente eu preciso de gente que entenda onde e como queremos chegar, que entenda nosso momento financeiro. O grande problema é exatamente esse: o desafio de trazer os jogadores sem ter muito a oferecer, pois nos foi tirado o espaço e o investidor para este ano. Não escondo de ninguém que tenho o Evandro (Ferreira, empresário), que já fez o Kenedy para a gente, quando conseguimos pagar dívidas (Nota do editor: o atacante Kenedy, que ganhou projeção no Fluminense e atualmente joga na Europa, foi descoberto pelo Friburguense, em 2005). Lá atrás, essa gestão assumiu com uma dívida muito grande, com a responsabilidade de fazer um grande trabalho e chegou até aqui. Mas o Evandro perdeu a confiança, a partir de tudo o que aconteceu, e não posso falar que ele estará junto com a gente efetivamente. Tem outro empresário, o Felipe, que ano passado apostou bastante.
Divergências políticas com a presidência
— Esse é um assunto que eu trouxe à tona para o torcedor entender, mas não falo muito com os jogadores sobre isso. Problema de gestão, de ser A ou B, deixei bem claro e o Conselho vai decidir. Mas o fato é que eu não posso parar, senão o Friburguense não disputa a Série A2. Pode até se dizer que o Friburguense tinha um time montado, mas isso não foi colocado em momento nenhum, na apresentação da proposta. E a minha preocupação é disputar a Série A2 de maneira forte, sem deixar que os jogadores percebam que existe um desequilíbrio, que não podemos esconder. O trabalho já vinha sendo feito. Mas, de maneira alguma, se for campeão, vou bater no peito e dizer que estava certo. Da mesma forma, se cair, assumo qualquer tipo de culpa e me responsabilizo. Hoje, você tem uma chance de ser campeão e duas de cair. Mas, no futebol, por melhor que seja o projeto ou investimento, o trabalho é que vai nos direcionar. E estamos trabalhando para chegar na Série A. É o que quero passar ao torcedor: a força, que parece que poderia ter sido tirada do grupo, ela continua.