Só dá para saber que Léo Pimenta tem 40 anos de idade olhando para sua ficha técnica. O sorriso no rosto, o jeito descontraído de garoto e a boa forma física podem fazer o meia do Olaria se passar por bem mais jovem. É só quando o bem humorado camisa 10 fala sério que se pode acreditar um pouco mais no que dizem os números de sua data de nascimento. O foco e o discurso de liderança chamam atenção, mas um veterano como ele também tem sonhos de adolescente, como voltar a jogar no Maracanã.
Personagem do primeiro Entrevistão do ACESSO CARIOCA, o experiente Leonardo André Pimenta Faria começou sua carreira profissional fora do Brasil. Em Portugal, só tinha 17 anos quando fez seu primeiro jogo pelo modesto Vilanovense. Antes disso, passou pelas categorias de base do Flamengo e do Fluminense, mas fez mesmo seu nome no exterior. Jogou, além do país europeu, também nos Emirados Árabes e no Irã, onde foi ídolo.
Agora, ele está em sua segunda temporada consecutiva com a camisa do Olaria. Embora nascido em Jacarepaguá, na Zona Oeste, ele se sente em casa na Rua Bariri. O jeito brincalhão e agregador o torna uma espécie de líder carismático de um grupo jovem. E o inseparável banjo é garantia de música e animação no vestar. Em 2022, o jogador estava no grupo que bateu na trave em seu intuito de chegar à primeira divisão. Léo esteve em 12 jogos naquela temporada, incluindo a finalíssima, perdida para o Volta Redonda. Se ficou a tristeza por não ter subido, a esperança se renova agora.
— Se conseguirmos concluir os nossos objetivos neste ano, de acesso e de título, eu já tive uma conversa que serve para mim mas também para todo o grupo. O nosso maior prêmio será a manutenção de 80% ou 90% desse plantel para a Série A. E eu me vejo lá. Poder jogar de novo no Maracanã é uma coisa que eu quero muito que aconteça — diz o meio-campista.
De fato, Léo Pimenta já esteve no Maraca vestindo as camisas de Boavista e Duque de Caxias, algumas das que envergou no Rio, assim como Bangu, Audax e Angra dos Reis. É um cenário que ele pode voltar a visitar caso seu Olaria conquiste a Segundona do Estadual, que começa neste sábado (13). Para o armador já quarentão, nunca é tarde para revisitar velhos sonhos e inspirações, a cada vez que a bola está prestes a rolar novamente.
Veja abaixo todos os pontos do Entrevistão com Léo Pimenta:
Como você vê este momento pessoal, aos 40 anos, novamente vivendo a expectativa de um começo de temporada com o Olaria e almejando uma vaga na primeira divisão?
— É um privilégio estar nessa família do Olaria, é um projeto que visa a subida à primeira divisão, realmente. Vejo que a gente se coloca como um dos candidatos ao acesso. Nossa pré-temporada foi muito boa, o time mostrou dedicação total, com treinos em dois períodos e muito foco na estreia. Mas não só para o primeiro jogo, o campeonato inteiro também. A gente espera estar no maior nível possível, não só para os torcedores, mas também em nome do nosso objetivo interno. Iremos lutar para chegar ao último jogo e, na Copa Rio também, buscar colocar o Olaria de novo no cenário nacional.
O que ficou de lição da derrota de 2022, quando o Olaria chegou tão perto, mas não conseguiu subir (perdeu a final da Segundona para o Volta Redonda)?
— A gente ainda comenta sobre aquele jogo, todos os dias. Não deu pra esquecer. É óbvio que aprendemos com tudo que aconteceu em 2022, mas realmente ficou aquele gostinho de que passou muito perto. Aquela final foi meio atípica porque jogamos aquém do que apresentamos o campeonato todo. Mas, no jogo de ida, nós poderíamos ter vencido por quatro ou cinco gols de diferença, pelo que jogamos. Mas saímos só com uma vitória apertada. Então, a lição que fica é que cada jogo é uma final de fato. E, se a gente tiver a chance de ganhar de três, o negócio é fazer quatro, cinco, dez.
Naquela temporada, o time superou muitas expectativas para chegar à final…
— Em relação à expectativa dos investidores e a da diretoria, realmente ela foi além. Porque, em tese, o esperado era que a gente ficasse ali no meio da tabela, de repente chegando a uma das finais de turno, mas nós fomos além e chegamos à decisão do acesso. Acho que o nosso forte era e é alegria no vestiário, ir com afinco para a Bariri, todos os dias, para treinar, ter essa entrega e esse espírito.
O grupo parece todo muito unido, mas também descontraído, com brincadeira e pagode no vestiário, um clima que nem todo mundo faz questão de mostrar. O quanto isso é importante no sentido de agregar o elenco?
— Por tudo que já passamos no futebol, caras como eu e o Anderson (zagueiro) ao longo destes anos, o pouco que a gente pode agregar, uma das nossas maiores importâncias, é fazer com que todo mundo sinta a alegria de estar ali. Quem faz o que ama não trabalha, se diverte. Então, a gente fica atento em chamar atenção para esse lado. Dificuldades nós temos, como qualquer clube da segunda divisão, mas a gente atropela essas dificuldades porque ali não tem colega de trabalho, tem amigo. A gente conversa, está sempre junto, sabemos do problema que o outro tem, até dentro de casa. A gente estampar isso constantemente é a segurança do trabalho bem feito. É claro que o pau quebra se a coisa dá errado, mas rapidamente tudo fica tranquilo. Porque a alegria do meu companheiro é a minha também. Não importa o prêmio individual, importa mesmo é o prêmio coletivo, que é a subida, fazer o Olaria campeão.
Você, mesmo aos 40 anos, continua estando bem fisicamente e jogando com bastante frequência. Como se sente com isso?
— A gente fica, sim, de olho na parte física. O meu corpo é o meu termômetro. Se consigo competir em alto nível e de igual para igual com essa garotada de 18 anos é porque eu me cuidei ao longo da minha jornada. Graças a Deus, eu não sou um jogador com histórico de lesão grave. É claro que o tratamento e os atalhos do campo passam a ser outros, com o passar do tempo. Você perde aqui, mas ganha acolá. A sabedoria de ‘tirar o nó do jogo’ está bem aflorada.
Pensa no momento da aposentadoria ou ainda não é o momento?
— É claro que esse dia vai chegar. É o que eu falo para a garotada, destacando sempre o quanto é importante alcançar a liberdade financeira porque passa muito rápido. Sei que, a cada jogo que passa, o momento do fim fica mais próximo. Mas ainda não me vejo parando, nem deixando de atuar. Isso é uma coisa que vai amadurecer ao longo do tempo. Hoje, eu me encontro em plenas condições físicas. Se conseguirmos concluir os nossos objetivos neste ano, eu já tive uma conversa que serve para mim mas também para todo o grupo. O nosso maior prêmio, além do título e da subida, será a manutenção de 80% ou 90% desse plantel para a Série A. Se acontecer, isso já está definido, falo em primeira mão para vocês. E eu me vejo lá. Poder jogar de novo no Maracanã é uma coisa que eu quero muito que aconteça. Mas, vamos passo a passo. O clube e o bairro todo estão no mesmo lugar.
Pela sua experiência e liderança, pensa em ser técnico futuramente?
Sim, o caminho é esse. Eu já tive alguns convites para fazer parte da outra ponta do comércio do futebol, que é o lado de agenciamento. Porque foram 18 anos que passei fora do Brasil, então muita gente me chama para esse lado, que não é de todo ruim. Mas é que continuar de chuteira, mexendo o xadrez do jogo, é uma coisa que faço a vida toda e para a qual eu vou me preparar. Vou arrumar os documentos necessários, junto à CBF e tudo. Então, me vejo assim no futuro. E, só depois disso, poder usar todo meu know-how que adquiri na minha carreira.
O Olaria tem o seu alçapão tradicional na Rua Bariri, mas obviamente há os jogos fora de casa e o primeiro será assim, contra o Americano. O que você espera para este primeiro confronto?
— É um campeonato difícil e equilibrado. A gente sabe da nossa força em casa, mas os outros também tem. Fora de casa, é importante a gente somar pontos sempre. Mas, em casa, o pensamento tem que ser sempre de vitória. Caiu na Bariri, é cerol. Tem que ser essa a mentalidade. Sabemos da força do Americano jogando em Campos, com certeza, mas nós fomos os vice campeões do ano passado, então temos que lutar pela vitória já nesse primeiro jogo.
Sabendo desse equilíbrio do campeonato e pela movimentação dos outros clubes, o que você espera no sentido de dificuldades? E para a Segundona deste ano, como um todo?
A gente só roga à Federação que mude esse regulamento, né. Eu lamento que só suba um time à primeira divisão porque é uma covardia. Parece falta de vontade de mudar. Cabe a mudança e a mudança para melhor é sempre bem-vinda. Mas a gente dá mais atenção e destaque a America, Americano, Petrópolis e Maricá. Acho que eles podem nos complicar. É claro que todos os times podem, mas pelo que esses aí têm feito, são os que a gente acompanha e sabe mais do que são capazes. O negócio é ir passo a passo. De todos os 33 pontos que vamos disputar, 18 deles serão na nossa casa e este será justamente o diferencial. Ao longo dos últimos anos, os números mostram que um time com 24 a 27 pontos está dentro do mata-mata. Então, é esse o cálculo a seguir.