Quando Bernardo foi contratado pelo Maricá, todos sabiam que estava chegando ao clube o maior candidato a craque da Série A2 do Campeonato Carioca deste ano. Aos 32 anos, o meio-campista com passagens por Vasco da Gama, Cruzeiro, Palmeiras e muitos outros clubes chegava para ser a grande referência do time. E disposto a firmar uma imagem de maturidade e liderança, adquirida ao longo dos anos.
Bernardo era só um jovem dos juniores do Cruzeiro (MG) quando despontou, em 2010. Mas o talento dele já foi possível de ver na Copa São Paulo de Juniores daquele ano, em que foi artilheiro. No ano seguinte, foi protagonista na bela campanha do Vasco, campeão da Copa do Brasil e vice-campeão brasileiro. Nos últimos anos, já mais velho, ele rodou por equipes mais modestas, inclusive pelo Volta Redonda, no Rio. Mas ele ainda sonha em voltar aos grandes holofotes e vê a chance no Maricá como algo que só engrandece sua carreira.
— É mais uma motivação, né? Já rodei em vários clubes grandes do Brasil e, de 2017 para cá, passei a defender clubes menores. Então, tem que ter aquela força de vontade, passar uma força para os garotos que estão começando. Ser uma referência aqui no Maricá me faz precisar passar essa experiência, mostrar o caminho certo para que eles cheguem aos seus objetivos, que obviamente é chegar a um clube grande. Quando entro em campo, procuro dar meu melhor. Porque eu ainda sonho em vestir uma grande camisa de novo, mas isso depende do meu trabalho dentro e fora de campo — disse o jogador, em entrevista ao programa ‘Encontro de Craques’, do canal Bandsports.
De fato, Bernardo é o mais ‘cascudo’ do elenco maricaense, além de ser o jogador de mais currículo. Mas boa parte dessa experiência vem de cicatrizes deixadas por um passado complicado. Problemas disciplinares e de lesão afetaram o jogador, sobretudo na segunda e terceira passagens pelo Vasco, em meio a empréstimos a Palmeiras e Santos. Ele admitiu que perdeu o ânimo e se revoltou pelo revés, no momento em que esperava decolar de vez, rumo à Europa:
— Foi um momento muito delicado. Desde o começo, com 12 anos, no Cruzeiro, sempre sonhei em ser profissional. Até chegar a isso, tive uma ótima base, ótima educação, todo o suporte. Cheguei no Vasco e não tive muito problema na minha primeira passagem. Estava no meu primeiro casamento, mais tranquilo. Depois que voltei, me separei. E, no Rio, você passa a ter mais facilidade com noite, essas coisas. Isso me atrapalhou muito porque eu tinha o sonho de jogar na Europa. Em 2013, logo após o Carioca, cheguei a ser sondado pela Inter de Milão. Foi quando tive uma lesão, além de outros problemas. Não digo nem que sofri com depressão, mas fiquei triste, magoado. Porque, do nada, bagunçou tudo e deu tudo errado.
Apoio da família foi decisivo para dar a volta por cima
Pelas dificuldades que teve, Bernardo já não conseguia repetir o mesmo nível de atuações que o consagrou. A imprensa o tachou de ‘problemático’ e as portas começaram a se fechar. Mesmo campeão carioca com o Vasco, em 2015, passou a rodar por clubes como Ceará, Coritiba (PR) e Botafogo (SP), onde pouco brilhou. Era o momento de tentar a sorte fora do Brasil e foi justamente esse um ponto de virada para ele.
Mas, ainda mais que isso, o apoio da família se mostrou decisivo. Filho de Hélio, grande goleador do Palmeiras no fim dos anos 1980, Bernardo esteve na Coreia do Sul, na Arábia Saudita, no Kuwait e em Hong Kong. Longe dos problemas que tiraram seu foco, ele foi se reencontrando. Quando desembarcou no Volta Redonda, em 2020, à beira dos 30 anos, já era um jogador completamente diferente, dentro e fora do campo.
— As pessoas de dentro do futebol já não tinham mais o mesmo olhar para o Bernardo, daquele garoto jovem que foi artilheiro da Copa São Paulo. Eu também perdi um pouco de confiança em mim mesmo. Comecei a rodar, atuar fora do país. E recuperei um pouco essa confiança quando joguei na Arábia Saudita, tive mais jogos para disputar, o que é muito importante para um jogador, seguir jogando com frequência. E pude superar tudo com a força da minha família, do meu pai, da minha mãe, dos meus filhos. Tenho uma família muito boa. Quando você passa por um momento difícil, só a família é que está do seu lado. E, com o amor que tenho pelo futebol, pude ter alegria novamente — concluiu.
Reinaldo revela: colocou o craque na parede
No Maricá, Bernardo encontrou-se com um antigo artilheiro, que agora não estaria a seu lado para receber passes, mas para comandá-lo: Reinaldo, atacante com passagens destacadas por clubes como Flamengo e Santos, é o técnico do time e não perdeu a oportunidade de ter uma conversa séria com o meia. Sabedor do passado do craque, cobrou para que ele assumisse o papel de referência do time. E deu certo.
— Quando o Bernardo chegou, tivemos uma conversa olho no olho. Falei para ele: “Você tem 32 anos, passou por diversos clubes grandes do futebol brasileiro e, por isso, tem uma responsabilidade grande aqui no Maricá, dentro e fora de campo”. Passei para ele que temos uma categoria de base muito forte e que ele tinha que ser uma referência para esses meninos, um exemplo para tudo: disciplina, horário, educação… Porque bola ele tem, sempre teve, para voltar a jogar em grandes clubes, como já aconteceu. E ele está cumprindo muito bem com o que prometeu. Tenho certeza de que isso vai levá-lo à excelência e a fazer uma grande competição — afirmou Reinaldo.
No dia em que completa 33 anos, Bernardo entra em campo pelo Maricá, diante do Friburguense, pela segunda rodada da Série A2 do Carioca. Neste sábado (20), o camisa 10 terá a oportunidade de tentar conduzir o time à sua primeira vitória na competição deste ano, após o empate da estreia com o Artsul.