Seis equipes de menor expressão do Rio de Janeiro deram um passo importante para serem reconhecidos oficialmente como campeões cariocas. Uma moção que corre na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro pede que Engenho de Dentro, Modesto, SC América, Santa Cruz, Oriente e Boa Vista passem a ser considerados vencedores de Campeonatos Cariocas que ocorreram entre 1925 e 1932.
O pedido foi feito pelo vereador Tarcísio Motta (PSOL), em mais um capítulo de uma longa briga de historiadores e pesquisadores pelo reconhecimento das conquistas. Os títulos reclamados foram conquistados por Engenho de Dentro (1925), Modesto (1926 e 1927), SC América (1928 e 1929), Santa Cruz (1930), Oriente (1931) e Boa Vista (1932). Destes, somente o primeiro ainda existe, mantendo uma sede social.
A moção do vereador lembra que os campeões da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) não possuem o mesmo reconhecimento e que “são campeões esquecidos, que eram compostos por atletas negros e da classe trabalhadora, e que já não existem mais”. Por isso, pede “o reconhecimento de seus títulos como também verdadeiros campeões cariocas, valorizando assim nossa cultura esportiva, que pulsa nos subúrbios do Rio de Janeiro”.
Entenda os motivos do ‘apagamento’ das conquistas
Apesar da menor fama destes seis clubes (mesmo porque alguns se extinguiram poucos anos depois), os campeonatos realizados entre 1925 e 1932 foram oficiais e organizados pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT). Ao mesmo tempo, outra liga, a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), contava com seu próprio campeonato, mas com os clubes mais tradicionais.
Esta divisão atingiu seu ponto mais polêmico em 1924, logo depois que o Vasco da Gama foi campeão carioca pela AMEA, mas deixou a liga após a mesma sugerir que o Cruz-Maltino deveria abrir mão de jogadores negros e analfabetos. O clube, então, se filiou à LMDT, formada por clubes quase todos suburbanos e de origem pobre. Campeão carioca invicto em sua liga, e ganhando todos os jogos, o Vasco foi readmitido na AMEA no ano seguinte.
Entretanto, o reconhecimento aos títulos posteriores ao do Vasco não aconteceu. Por menor apelo dos clubes participantes, seja por sua origem ou por menor cobertura da mídia, estas conquistas quase não constam nos livros de História e nem são admitidas pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), que surgiu da fusão da AMEA e da Liga Carioca de Futebol (LCF).
Por sua vez, a LMDT não pretendia tornar-se concorrente de duas ligas e decidiu se tornar uma sub-liga da LCF, ou seja, filiada a ela, mas sem o status de campeonato estadual. Nestas competições, o Viação Excelsior (1933) e o São José de Magalhães Bastos (1934) foram campeões. A LMDT foi finalmente extinta em 1935.
A busca pelos títulos ‘esquecidos’, portanto, ganha agora um apoio político. O caso segue tramitando na Câmara, mas ainda não foi publicado pelo Diário Oficial da mesma. Mesmo que aprovada, a moção ainda não oficializaria o reconhecimento destes títulos por parte da FFERJ, mas poderia pressioná-la a avançar neste sentido. A entidade reconhece campeões duplos nos anos de 1907, 1912, 1924 e de 1933 a 1936.