A mancha da manipulação de resultados na quinta divisão do Carioca pode ter voltado a aparecer nas últimas semanas. A goleada sofrida pelo São José para o Zinzane, neste domingo (18), por 11 a 0, foi a maior da história da competição. Mas também existe a suspeita de que a ampla margem teria acontecido de forma irregular, não só pelo marcador incomum, mas também pela natureza dos acontecimentos e a soma de alguns fatores inusitados.
O jogo deste domingo, que aconteceu no Marrentão, em Duque de Caxias, teve seu primeiro tempo encerrado com vantagem do Zinzane por 2 a 0. Mas, no segundo tempo, o São José levou oito gols em apenas 13 minutos, quase todos em bolas perdidas pela defesa perto de sua área. Embora tivesse perdido um jogador expulso aos 29 minutos da etapa inicial, a discrepância da atuação da equipe nos dois momentos chamou atenção.
Além disso, jogadores do São José que não estiveram em campo no domingo procuraram a reportagem do ACESSO CARIOCA para denunciar a diretoria do clube. Eles não terão suas identidades reveladas. De acordo com as informações, estes jogadores foram comunicados de que não haveria jogo neste domingo e, assim, foram dispensados. Porém, outros jogadores não inscritos oficialmente teriam sido escalados para se fazerem passar pelos atletas regularizados e que atuaram durante a maior parte do campeonato.
Na rodada anterior, uma outra goleada sofrida pelo São José já tinha levantado suspeitas. Os 7 a 1 sofridos, de virada, para o Vera Cruz, também aconteceram em circunstâncias suspeitas. A maioria dos gols sofridos pelo time de Itaperuna tiveram natureza semelhante, com zagueiros e defensores perdendo a bola no último espaço do campo, deixando assim o caminho livre para os atacantes rivais marcarem. Ao longo da Quintona, o São José levou dois WOs, nas duas primeiras rodadas, por não ter jogadores inscritos. Ao todo, foram três vitórias, um empate e seis derrotas.
Manipulação no Carioca não é fato novo
As manipulações de resultados, que ganharam notoriedade nacional devido aos esquemas recentemente descobertos envolvendo clubes da Série A e B do Campeonato Brasileiro, geralmente contam com apostadores on-line para aliciar atletas e induzi-los a errarem de propósito, seja cedendo gols ou escanteios, cometendo pênaltis ou levando cartões amarelos ou vermelhos. No Rio de Janeiro, situações como essas já vêm sendo investigadas pelo menos desde 2016.
O próprio São José já se viu envolvido em um esquema de manipulação, na quarta divisão do Carioca de 2019. Na ocasião, o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RJ) denunciou o clube e seus dirigentes por participarem de uma rede para perderem jogos propositalmente em troca de benefícios financeiros. O presidente do clube, Adílson Faria de Souza, foi suspenso por um ano e multado em R$ 20 mil. Por outro lado, o empresário Emerson Silvano da Silva, identificado como investidor do clube, foi banido do futebol e recebeu uma multa de R$ 160 mil. Ele foi apontado como o principal aliciador de jogadores para que errassem em campo e tornassem o esquema possível. O então diretor de futebol do clube, Maurício Pelegrini, também foi banido e multado em R$ 70 mil.