America prepara estratégia de defesa contra denúncia no Tribunal

Denunciado pela suposta escalação irregular do atacante Yury, o America nem esperou a confirmação por parte do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RJ) para começar a elaborar uma estratégia de defesa. Embora a Procuradoria do Tribunal ainda precise acatar a denúncia, o clube já se antecipou e formula como irá se defender para não perder pontos na Série A2 do Campeonato Carioca. O clube poderia perder até 28 pontos e ser rebaixado à terceira divisão do Estadual.

Yury jogou em todas as sete partidas do America na Segundona até a última quinta-feira (29), data da denúncia. Macaé, Americano e Cabofriense entraram com uma ação alegando que o jogador deveria cumprir mais um jogo de suspensão, já que sofreu uma punição de dois jogos quando estava no Paduano, em 2022, e só cumpriu a suspensão automática. Apesar disso, o clube tijucano acredita que este prejuízo pode ser bem menor que o esperado inicialmente.

Apesar do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) prever que o clube perca os pontos em jogo (21) e os que ganhou em cada partida (7) na qual atuou com o atleta irregular, o America deverá apelar ao princípio da prescrição. Ou seja, a denúncia pelas supostas irregularidades de jogos anteriores não teriam valor, por acontecerem muitos dias depois das partidas em questão. Assim, o departamento jurídico do clube tentará fazer com que a punição, caso levada à frente, seja relativa apenas ao jogo contra o Araruama, que aconteceu dois dias antes da denúncia dos três clubes. Portanto, o clube poderia estar sujeito a perder apenas quatro pontos, em vez de 28.

De fato, o America está bem resguardado juridicamente. A advogada do clube é Amanda Borer, que trabalha no escritório de Marcelo Jucá, antigo presidente do TJD-RJ, e nome influente no cenário do direito esportivo. Ele, inclusive, chegou a advogar para o próprio America por alguns meses, em 2022, mas se afastou. Por outro lado, o clube sequer relacionou Yury para o jogo do último sábado (1), contra a Cabofriense, o que poderia ser interpretado pela Procuradoria do Tribunal como uma admissão de culpa. De qualquer modo, é da Procuradoria a responsabilidade de aceitar a notícia de infração, por parte dos três clubes denunciantes, ou simplesmente arquivar o caso, se entender que não há irregularidades.

Tese de advogado americano anima torcida

Embora ainda não haja nenhuma definição oficial sobre o futuro do caso, é certo que seus desdobramentos já vão ocorrendo extra-oficialmente. Nesta sexta-feira (30), o advogado Mauro Chidid, que já representou o America em diversas causas nos últimos anos, apresentou uma tese que, segundo ele, pode minorar a punição ao clube, ou até mesmo fazer com que ela nem aconteça. O magistrado aponta que não vê motivo para que os rubros percam pontos na Segundona.

Chidid advoga para outros clubes de menor investimento, mas não está envolvido diretamente no caso. No entanto, ele garantiu ter posse de um documento que prova que Yury teria sido, na verdade, punido com um jogo de suspensão, em vez de dois. Assim, por já ter cumprido a automática, estaria apto a jogar sem restrições. Embora não divulgue o teor do documento, ele garante que o mesmo é oficial do TJD-RJ e que contradiz a ata do julgamento, emitida em 26 de outubro, que confirma as duas partidas de gancho ao atacante.

— Consegui um documento, lá dentro do TJD, dizendo que este atleta não tem nenhuma punição de duas partidas. Então, temos a ata, que fala nessas duas partidas, e o documento oficial do Tribunal, que dá conta de que ele pegou um jogo de suspensão. Se ele pegou só um jogo, está totalmente legal. Mas, se isso não for considerado, há de prevalecer a tese da prescrição. Ou seja, se ele atuou irregular, foi na primeira oportunidade, o jogo contra o Resende, na primeira rodada. Contra o Araruama, já não estava mais — disse o advogado, em live do canal ‘Setor America’, do YouTube.

No entanto, a tese do advogado pode ser contraposta por um caso semelhante, de dez anos atrás, e que beneficiou o próprio America. Na altura, o zagueiro Talis, do Goytacaz, foi escalado irregularmente em dois jogos da Segundona de 2013, o que levou o caso a julgamento no próprio TJD-RJ. Mauro Chidid era, a propósito, o advogado do America, e que acionou a Procuradoria com o pedido de denúncia. O assunto foi julgado e o Goytacaz foi condenado, em todas as instâncias, à perda de seis pontos, o que fez o clube tijucano entrar no Triangular Final do campeonato, no lugar do Goyta, que acabou eliminado.