As acusações de jogadores do São José contra o gestor de futebol do clube, William Rogatto, ao ACESSO CARIOCA, constituíram as primeiras denúncias públicas acerca de possíveis manipulações de resultado na Série C do Campeonato Carioca. O dirigente, por sua vez, respondeu às falas de atletas com tais acusações e negou envolvimento em qualquer tipo de fraude durante a Quintona.
O dirigente foi acusado por jogadores, que preferiram não se identificar, de ser o responsável por comandar um esquema em que facilitava derrotas do São José, com o apoio de outros jogadores. A equipe perdeu para o Vera Cruz por 7 a 1 e levou 11 a 0 do Zinzane, quando não levou a campo nenhum jogador registrado. A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) suspendeu o clube, assim como a Brasileirinho e Duquecaxiense, por suspeitar de manipulação.
Por sua vez, William afirmou não ter qualquer tipo de envolvimento em esquemas deste tipo. De acordo com ele, as acusações dos jogadores teriam acontecido como uma forma de boicote por terem sido supostamente barrados pelo técnico Bruce Taylor. Assim, depois da derrota por 7 a 1, ele afirmou ter sido abandonado por eles e precisou recorrer a uma medida desesperada para não perder por WO:
— Os jogadores é que fizeram um complô para não irem ao jogo e para que eu tomasse o WO. Me acusaram porque tem jogador mau caráter, que nunca jogou em lugar nenhum. Paguei a passagem deles em todos os jogos e, para esse jogo, ninguém pediu. Foi quando comecei a estranhar. Tínhamos um grupo no WhatsApp que, de uma hora para outra, ficou em silêncio. Ninguém falou mais nada. Então, fui para o jogo com os jogadores que tinha arrumado.
O dirigente, entretanto, afirmou não saber que o clube poderia ser punido por jogar com atletas irregulares. Por ser de São Paulo, William disse ainda estar aprendendo o regulamento do futebol carioca e que preferiu correr o risco do que ser excluído do campeonato por levar um terceiro WO. Nas duas primeiras rodadas, o São José já tinha perdido sem sequer jogar. Ele também negou que a troca de treinadores (Ede Júnior por Bruce Taylor) tenha servido para facilitar fraudes e disse ainda que ele mesmo viu indícios de que os jogadores tinham más intenções.
— O treinador (Ede Júnior), quando perdeu de 5 a 1 (para o Profute), passou mal e abandonou. A partir dali, os jogadores eram do treinador novo e isso gerou ciúme. Tinha jogador querendo comandar o time. Essa é a verdade, não teve manipulação nenhuma no São José. Ninguém fez nada, nem ganhou nada, nem argumentou nada. Quando eu vi algumas coisas, mandei sair, para não ter esse problema — alegou.
Embora seja o homem-forte do São José, William ainda não é o presidente de fato. Ele afirma já ter uma tratativa de compra firmado com o dono do clube, Adilson Faria de Souza, mas que ainda não foi concluída. Atualmente, ele segue como gestor e representante oficial do clube. O dirigente já foi acusado de participar de um esquema de manipulação quando estava em São Paulo, em 2020. Na altura, ele atuava como empresário e teria aliciado jogadores do Barretos (SP) a perderem para o Linense, em um jogo da Série A3 do Paulistão. Porém, também negou estas acusações. Agora, o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RJ) investiga as denúncias feitas pela Procuradoria em relação à Série C do Carioca.
Confira abaixo os pontos da entrevista completa de William Rogatto ao ACESSO CARIOCA:
Entrada na competição
— Eu só disputei o campeonato porque fui obrigado. Quando comprei o clube, queria licenciar, mas não era possível porque (o clube) já estava há três anos sem disputar. Estou começando a aprender o regulamento da Federação do Rio e estou tendo que me adaptar. Soube que levaríamos uma multa de R$ 200 mil se tomássemos mais um WO e, no desespero, pedi socorro a um amigo que tinha um time da base para levar alguns jogadores.
Denúncias de fraude feitas por jogadores
— Eu não conhecia o grupo de jogadores, os vi poucas vezes. Uma delas foi em uma reunião, justamente porque havia rumores de que alguns jogadores queriam fazer manipulação. Reuni todos e falei que, se fizessem isso, eu ia chamar a polícia. Quando a gente quer fazer o certo, cria inimizade. São jogadores sem caráter e sem qualidade. Contra o Vera Cruz, nós fizemos 1 a 0 e, de repente, tomamos um gol. E os jogadores que me acusaram estavam para frente do meio-campo. Eu estava na arquibancada e comecei a notar que tinha algo errado. Dali mesmo, gritei para o treinador para tirar os jogadores que pareciam estar facilitando. Quando saíram, brigaram entre eles mesmos.
Motivos pelos quais acredita ter sido acusado
— O treinador, quando perdeu de 5 a 1, passou mal e abandonou. A partir dali, os jogadores eram do treinador e isso gerou ciúme. Tinha jogador querendo comandar o time. Essa é a verdade, nem a minha e nem a deles. Não teve manipulação nenhuma no São José, ninguém fez nada, nem ganhou nada, nem argumentou nada. E quando eu vi algumas coisas, eu mandei tirar para não ter esse problema. Mas não está escrito na testa de ninguém quem é bandido e quem é jogador de qualidade. É só ver esse jogador do Santos (Eduardo Bauermann). Ele fez por conta, não estava na cara dele que ele fazia isso. Hoje, clube tem que escolher jogador a dedo. É fácil manipular? Mas quem faz acontecer não é o dono da agremiação, são esses vagabundos que entram em campo.
Debandada de jogadores para o jogo contra o Zinzane
— Os jogadores fizeram um complô para não irem a esse jogo e para que eu tomasse um WO. A acusação que fizeram é porque tem jogador mau caráter e que nunca jogou em lugar nenhum. Paguei a passagem em todos os jogos e, para este, ninguém pediu passagem. Foi quando comecei a estranhar. Tínhamos um grupo no WhatsApp que, de uma hora para outra, ficou em silêncio. Ninguém falou mais nada. Então, fui para o jogo com os jogadores que tinha arrumado.
Goleada elástica por 11 a 0
— Entramos com 11 jogadores em campo. Oito foram comigo e o restante chegou em cima da hora. Logo no começo, um deles foi expulso irregularmente. No primeiro tempo, os meninos até aguentaram, mas depois não deu. A gente jogou contra o Zinzane, não contra um time qualquer. E tomamos de 11. Eu pedi para o juiz encerrar quando já estava 6 a 0, mas ele me disse que não podia, que era anti-profissional. O Dilsinho (vice de futebol do Duque de Caxias), que é meu amigo, estava ao meu lado na arquibancada e me pediu para eu não fazer isso, pois tirar o time de campo podia levar o caso para o TJD e gerar uma punição. Então, deixei como estava e acabamos sofrendo esse placar elástico. Foi quando começaram a dizer que era manipulação. A verdade é que o futebol ficou chato: tudo é manipulação. Agora, assiste o jogo. Os caras (Zinzane) fizeram sete gols de bola alta, o atacante deles tinha um metro e oitenta e pouco e nem zagueiro alto eu tinha. Eu estava preocupado só em não tomar gols, com a integridade do clube. Porque os jogadores já tinham me sacaneado.
Utilização de jogadores sem registro
— Os jogadores de antes fizeram um motim entre eles. Tanto é que eles sempre me pediam passagem e, nesse dia, não pediram. Às 22h30 do sábado, quase 23h, o Bruce mandou a notificação (de que não haveria ambulância e os jogadores estavam dispensados), que eu também vi. Mas isso foi mais para ver como seria a postura dos atletas. E eles nem se manifestaram. Se chega uma mensagem dessa, qual é a primeira coisa que você faz? Pergunta se aconteceu alguma coisa. Mas os jogadores se calaram. E, depois, foram fazer uma covardia em pedir liberação no Sindicato dos Atletas. Eles querem limpar o nome deles por causa de um erro que eles mesmos cometeram. Se têm print ou áudio, é só apresentar. Agora, print pode ser burlado a qualquer hora. Para mim, não cabe como prova.
Troca suspeita de goleiros entre as partidas
— Os dois goleiros eram horríveis, mas um deles estava acima da idade limite. Só podiam jogar três jogadores acima de 23 anos. Acho que esse foi o critério que ele (Bruce) usou, não de quantos gols cada um tomou. Aí, é querer achar piolho em careca. Estão querendo justificar isso, mas o jogo em que o Juninho (goleiro inicialmente titular) jogou, nós perdemos também. Quer dizer que está envolvido, também? Mas, se estão acusando o Vinícius (goleiro presente em goleadas sofridas), tem que chamá-lo, até porque ele veio como indicação.
Acusações de fraude em São Paulo
— Em 2020, fizeram uma coisa muito mal montada contra mim. Usaram fotos do Instagram e áudios que, depois comprovaram, tinham uma voz que não era a minha. Tentaram me acusar porque um trabalho bem feito incomoda. Até hoje, não provaram nada e até arquivaram o processo. O próprio delegado me deu razão quando viu a acusação. Não preciso disso para sobreviver, eu tenho empresas. Não tenho medo de falar isso tudo e não me escondo. E, agora, o ataque é em cima do William, de novo. Por quê? Olha só o meu borderô: está todo pago, não tem nenhum atraso. Agora, vou começar a mostrar às pessoas como é o futebol de verdade. Estão me chamando para entrevistas em podcast etc., e vou começar a ir. Vou começar a mostrar o que as pessoas fazem, de onde que vêm esse tipo de acusações.
Investigação do TJD
— Não acho que vai prejudicar o clube. Apesar do que tem decisão que é tomada sem base ou sem prova. A gente confia em quem contrata e eu sou o cara que paga as contas. Hoje, jogador faz isso (manipulação) por conta própria. Como eu controlo o caráter do jogador? Já pensou multarem o Santos por causa do jogador que fez isso? É a gente que tem pagar? Ou tem que detectar, punir e expulsar? Às vezes, o clube é inocente e paga por erros dos outros. Quem faz acontecer é quem joga. Isso é o que tem que ser investigado.