As recentes notícias sobre possíveis esquemas de manipulação de resultados na Série B2 voltam a entristecer e indignar o torcedor que aprecia o futebol carioca das divisões inferiores. Mas, primeiramente, evidenciam o tamanho do buraco em que se encontram as políticas de prevenção e repressão a este tipo de crime no futebol brasileiro. E, ademais, provam que ainda existe muita gente esperta se passando por moderna, com velhos chavões e discursos que só servem para inglês ver.
Agora, o buraco cavado há anos atrás parece ser ainda mais fundo do que se previa. Novas modalidades de fraudes se observam e se multiplicam em jogos da Quartona. Assim, é justo dizer que os golpistas de clubes da Quintona, também neste 2023, fizeram escola. Mas é simbólico que um acontecimento como esse gere um inacreditável WO duplo entre duas equipes que estão suspensas, pois a Federação tem certeza absoluta de que seus jogadores e dirigentes tinham conhecimento de uma máfia de apostadores agindo dentro deles. Isto é, alcançou-se o cúmulo da vergonha. Até agora.
Ninguém pode dizer, afinal, que o que acontece agora é uma novidade. Na Série C do Carioca, o cenário já era o mesmo, com equipes levando sete, oito, dez gols em campeonatos que não apresentam tamanha discrepância técnica que justifique goleadas tão grandes. Não é – e nem nunca foi – profissional contra sub-13: se supõe que sejam jogadores profissionais dos dois lados. Mas, aparentemente, alguns escolhem o caminho que, teoricamente, seria mais fácil. Enchem os bolsos, ficam visados, se escondem e passam depois a operar em outros locais do Brasil.
É importante destacar que quem está envolvido em fraudes e manipulações atualmente no Rio de Janeiro não é iniciante. Tais práticas são comuns em vários outros estados do Brasil, como Paraná e São Paulo, por exemplo. Aqui no Rio, entra ano, sai ano, chegam novos investidores, novos figurões. Mas com velhos discursos, velhas desculpas para tentar justificar o que não tem justificativa: ganhar dinheiro em cima de faz-de-conta, enquanto fazem torcedores de palhaços.
Credibilidade do campeonato atingida
No circo de agora, a tentativa de disfarçar é um pouco mais criativa, embora ainda ‘manjada’. Com o a clássico ‘três vira, seis acaba’, apostadores colocam muito dinheiro no bolso e jogadores sem perspectiva salarial faturam as migalhas do que estes criminosos lucram em resultados armados e jogos já premeditados. Mas, ainda há quem não saiba disfarçar. Afinal, segurar o zero a zero e levar um caminhão de gols na segunda etapa já não engana mais ninguém. Nem a própria Federação.
É bem verdade, entretanto, que esquemas como estes são rasteiros. Isto é, torna-se muito difícil, quase impossível, detectá-los. Afinal de contas, as comunicações ocorrem diretamente entre apostadores e jogadores ou até mesmo dirigentes. Mas as punições têm sido muito brandas. Para se ter ideia, as suspeitas de fraudes na Série C do Carioca, já conhecidas e reveladas há muitos meses, ainda não foram sequer a julgamento. De fato, é pouco provável que o cenário da ‘pizza’, já antecipado por este site, não se observe ao fim do trabalho de auditores e procuradores, se é que ele ainda existe.
Agora, a certeza da impunidade e da continuidade das ações faz com que criminosos continuem agindo livremente, usando o nome de clubes para operarem. Mas dirigentes irresponsáveis e jogadores sem princípios também têm sua culpa no cartório. Assim, a roda segue girando e o ciclo vicioso permanece alimentado. Os campeonatos passam por desequilíbrios desnecessários, a torcida, os jornalistas e os poucos que continuam acreditando nos Estaduais de divisões inferiores novamente são enganados.
Talvez este seja o motivo de públicos tão reduzidos na Série B2 do Carioca, por exemplo. Há jogos que mal chegam a 50 presentes nos estádios. Se o pouco apelo do campeonato contribui para isso, não se pode negar que as seguidas mutretas e marmeladas também têm um papel importante na falta de credibilidade do campeonato para o torcedor em geral. Aliás, é até justo dizer que os poucos que o acompanham já estão cientes das sujeiras que seguem acontecendo. O ponto é: até quando a Quartona e a Quintona seguirão reféns de gente inescrupulosa e que só está atrás de dinheiro? Para tapar o buraco, pelo visto será preciso ir mais fundo do que nunca se foi até então.
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