As cenas de covardia observadas no último sábado (11), no jogo entre Duque de Caxias e Goytacaz, pela Série B1 do Campeonato Carioca, entristeceram a todos aqueles que acompanham o futebol carioca de menor investimento. Após uma arbitragem desastrosa de Thiago da Silva Ludugero, que anulou um gol e deixou de marcar um pênalti para o Goyta, alguns torcedores do Alvianil descontaram sua raiva em membros da imprensa, sob a justificativa de que eram torcedores da equipe adversária.
O episódio foi apenas o ápice de uma série de confusões que ocorreram em campo e que foram registrados pela arbitragem em súmula. Mas se os protestos e até a tentativa de invasão de campo ainda podem fazer parte do que tange o futebol e suas polêmicas, a agressão a profissionais que estão fazendo seu trabalho dentro do estádio – independentemente do clube para o qual torcem – é inaceitável e as justificativas a ela, nojentas.
A ilação feita pelos agressores foi justificada por uma postagem do Instagram do ACESSO CARIOCA. De maneira irresponsável, as redes sociais do próprio Goytacaz utilizaram a imagem postada por nós como se qualquer agressão à imprensa ou a torcedores fosse algo aceitável. Ou ainda como se os erros de arbitragem tivessem a ver com o que cada repórter, narrador, cinegrafista ou fotógrafo faz ou deixa de fazer.
Para piorar, a diretoria do clube, em vez de esforçar-se para identificar os agressores, que chegaram a tentar cobrir o rosto com camisas, expôs a identidade dos agredidos, postando em suas redes sociais a cópia dos boletins de ocorrência registrados na delegacia. As alegações absurdas são de que os agredidos, assim como o árbitro da partida, são moradores de Duque de Caxias. Ou seja, assim entende-se que estaria liberado o passe para ‘baixar o porrete’…
Não somos advogados do Duque de Caxias, nem promotores contra o Goytacaz. Tampouco somos juízes ou procuradores da Justiça Desportiva. Mas somos imprensa. E quando jornalistas são agredidos no exercício do trabalho, ainda mais sob alegações estapafúrdias, é dever de toda a classe se posicionar. Não se pode passar pano para um episódio tão lamentável e que colocou em risco a integridade física de várias pessoas por conta dos alegados erros de terceiros. E muito menos é aceitável utilizar publicações desta mesma imprensa para justificar a violência contra membros da mesma, especialmente quando esta atitude parte da diretoria de um clube.
É importante ressaltar que na esquecida terceira divisão do Campeonato Carioca, são poucos os abnegados, como nós, que fazem algum tipo de esforço para acompanhar o campeonato com alguma espécie de dignidade. Embora a tradição de muitos clubes envolvidos, incluindo o próprio Goyta, não condiga com o esvaziamento dos campeonatos, a falta de espaço na grande mídia, somada a divulgações mal feitas, diretorias amadoras e estratégias de marketing inexistentes, atrapalham e muito a divulgação das divisões inferiores. Assim, resta a alguns poucos (muitos dos quais de fato abraçam uma ou mais equipes de forma sentimental) se entregar a este tipo de trabalho.
Se, de fato, A, B ou C torcem para um time pequeno, vestem sua camisa e estão nas arquibancadas por eles, isto nunca deveria ser um argumento que justificasse selvageria contra eles. Some-se a isso dirigentes que adotam o antiquado discurso do “contra tudo e contra todos” e inflamam torcedores legitimamente revoltados contra aqueles que nada tem a ver com o insucesso do time em campo.
Respeitamos as torcidas de Goytacaz e Duque de Caxias, assim como as de todos os outros clubes do Rio de Janeiro. E também sabemos dos velhos problemas de uma arbitragem despreparada, para dizer o mínimo, no cenário estadual. Mas lamentamos que a linda festa dos torcedores do Goyta antes do jogo tenha sido ofuscada pelos atos de violência que ocorreram depois dele. E repudiamos a postura covarde de poderosos que insuflam a violência de dentro para fora do clube, antes mesmo do fim da eliminatória. Afinal, ainda há um jogo de volta a ser disputado. Mas são essas mesmas cenas e suas repercussões que podem até impedir – ou mesmo vetar – a transmissão do confronto de volta no Marrentão.
Como sempre, perde o futebol, sobretudo o de Campos, já tão sofrido e esquecido por conta de más administrações e falta de dinheiro. Episódios como o do último sábado não só representam uma mancha para o futebol campista, como ainda correm o risco de gerar uma punição administrativa ao Goytacaz, que faz tão bela campanha dentro de campo, mas cujos dirigentes e alguns torcedores tiveram uma postura lamentável fora dele.
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O texto é excelente. Mas seria importante também citar que na versão de torcedores e dirigentes do Goytacaz, esses profissionais da imprensa que estavam no estádio supostamente estariam fazendo gestos provocativos em direção a torcida organizada do Goytacaz inclusive replicando gestos característicos da torcida organizada do Americano, maior rival do Goytacaz. Nada justifica as agressões, mas nao podemos ser hipócritas nem querer passar a ilusão de uma santidade que não condiz com nenhum dos lados da história. Não é o certo, mas principalmente quando se trata de futebol, infelizmente toda ação gera uma reação. Fica de exemplo pra todos, a violência nunca é a melhor forma de responder… Mas as vezes “quem semeia vento colhe tempestade”