Após dois anos jogando sob o CNPJ do Gonçalense, o Petrópolis anunciou sua ‘independência’ nesta quinta-feira (18) e que se chamará apenas Petrópolis Futebol Clube a partir de então. Mas ficaram as perguntas para muitos torcedores e aficionados do futebol carioca de menor investimento. Afinal, este é o fim definitivo do Gonçalense? Qual será o futuro do clube? Ele deixa de existir oficialmente enquanto agremiação?
O ACESSO CARIOCA procurou Thiago Thomaz, um dos fundadores do clube, que ocupou o cargo de vice-presidente e também é o técnico com mais partidas em toda a história, com 57 jogos em três temporadas. Ele afirmou que este não é o fim da trajetória do Gonçalense de forma oficial e que o clube ainda terá seu nome vinculado ao do Petrópolis. Assim, seria chamado de Petrópolis Gonçalense Futebol Clube. Entretanto, isto ainda dependerá de oficialização por parte da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ).
Seja como for, Thiago e o pai, Joacir Thomaz, presidente do Gonçalense, se afastam de vez do futebol profissional e passam a administrar apenas a base. O time que disputa a Série A2 do Carioca e a Copa Rio ficará a cargo do gestor Alan Paschoal, conforme tem acontecido nos últimos dois anos.
— Tudo na vida tem início, meio e fim. E eu e meu pai vamos dar uma saída do Gonçalense por um tempo. Não quer dizer que, num futuro próximo, não possamos voltar a competir. Hoje, nossa vaga na Série A2 vai ser disputada pelo Petrópolis. Nada mais justo com o belo trabalho que o Alan fez. Existe um contrato que ele respeitou e, em cima disso, o Gonçalense vira Petrópolis — explica o dirigente.
Confira abaixo a entrevista completa de Thiago Thomaz ao ACESSO CARIOCA.
O que te fez abrir mão de seguir gerindo o futebol?
— Nossa caminhada sempre foi de muitas dificuldades, vocês acompanharam. Mas, desde 2021, principalmente, elas aumentaram muito, especialmente na questão financeira. Conversei com meu pai e perguntei a ele se queria continuar, ou se valia a pena continuar. Mas chegamos à conclusão de que, se fosse para ter um destino igual ao do Itaboraí, do Tigres, do São Gonçalo FC ou do Campos, não valeria. Foi quando recebemos o convite do Alan e aceitamos. Além disso, em 2020, meu pai sofreu um infarto no meio de um jogo. Já estava ficando perigoso e nos fazendo repensar muitas coisas.
Como foi esse episódio?
— Foi no jogo Gonçalense x Artsul. Ganhamos de 1 a 0, com um gol do Marreta aos 48 do segundo tempo. Eu estava de técnico na beira do campo e meu pai torcendo, na tribuna. Depois do jogo, saímos correndo na ambulância, eu dentro dela, junto com meu pai rumo a um hospital. Depois que chegamos, o médico me disse: ‘ou seu pai pára ou vai morrer’. E aí eu fiquei pensando: ‘será que vale mais a pena eu ter o meu pai ao meu lado por mais 10 ou 15 anos ou continuar com esse estresse e vê-lo infartando de novo ou sofrendo um AVC e ficando acamado?’. E, por essas coincidências da vida, foi justamente o Alan que me avisou que meu pai tinha infartado.
Foi daí que vieram as primeiras conversas com Alan?
— Ele estava no camarote quando meu pai passou mal. Depois que terminou o jogo, veio até mim e falou: ‘seu pai desmaiou lá em cima’. Foi daí que fomos socorrê-lo e partimos para o hospital. Depois disso, o Alan veio falar comigo porque já estava interessado em levar um time para Petrópolis, cidade dele. Ele conversou com a gente e me disse: ‘me deixa tocar o futebol profissional, sei que as dificuldades são grandes’. As conversas foram amadurecendo ao longo de 2021 e, depois disso, nós realmente julgamos que valeria mais a pena contar com o apoio dele.
Na sua gestão, o clube conseguiu alguns bons resultados…
— Apesar de todas as dificuldades, conseguimos fazer belas campanhas. Subimos logo no primeiro ano, em 2014, e quase sempre fizemos boas campanhas na segunda divisão. O ano de 2021 foi o mais difícil, mas ainda assim ficamos muito perto de subir para a primeira. Fizemos nossa melhor campanha, terminamos em segundo lugar, mas aí já não era eu como técnico, era o Luciano (Quadros). Aquele realmente foi o nosso último gás, nossa última tentativa.
E por que essa temporada foi tão decisiva neste sentido?
— Futebol é um esporte em que se gasta muito dinheiro. E, naquele ano, a despesa estava imensa. Na semifinal contra o Maricá, gastei R$ 15 mil. Na outra partida, quando nos classificamos para a final, mais R$ 15 mil. E, na final contra o Audax, R$ 20 mil. Ou seja, em uma semana, gastei R$ 50 mil. Eu sou sincero: não tinha esse dinheiro e precisei pedir emprestado. Algumas pessoas me ajudaram, mas é um gasto de dinheiro muito grande. Hoje em dia, numa segunda divisão, não adianta querer trabalhar na base do ‘vamos que vamos’: tem que ter dinheiro e planejamento. Para a gente, já não estava dando mais. E ainda ficou pior porque, naquele ano, eu e meu pai pegamos COVID. Então, realmente, precisávamos de uma ajuda, de um apoio.
Como avalia o trabalho do Alan e da diretoria atual no clube?
— Acho que nada mais justo do que o Alan ter a oportunidade de tocar esse projeto do futebol do clube. Até porque vem dando resultado. Com ele, o time chegou na semifinal em dois anos seguidos e ainda bateu perto de se classificar para a Copa do Brasil ou Série D. Nós assinamos um contrato em que ele ficaria à frente da gestão por dois anos. Cumpriu esse contrato em todas as cláusulas e corretamente, então fez por merecer essa oportunidade. E acho que é justo que possa dar continuidade a esse trabalho.
Qual o legado que você considera ter deixado no trabalho do Gonçalense?
— Quem acompanhou sabe que nós sempre procuramos trabalhar certo. Quando começamos com o clube, era basicamente a molecada do meu bairro, que eu chamava para jogar profissionalmente. Eram jogadores que, em sua maioria, já nem queriam mais saber de futebol, pois não tinham oportunidades. Mas eu abri as portas para todos eles. Júlio, goleiro, Ronald, Alan, o Zé pequeno, Sorriso… Mais tarde, veio o Sabão. O Anderson, que era zagueiro e hoje está no Potiguar (RN), trabalhava numa imobiliária, estava parado. Então, nós revelamos muita gente. Conseguimos bons resultados e muitos desses jogadores estão aí até hoje.
Afinal, o Gonçalense acaba ou continua de uma forma diferente?
— Tudo ainda vai depender das documentações que serão enviadas à Federação. Mas eu e meu pai ficaremos à frente dos trabalhos na base. Nossos times sub-15 e sub-17 estão agora em Minas Gerais, disputando um campeonato. E nós também iremos acompanhar o sub-20 na sequência da temporada. Estou observando possibilidades para treinar algum outro clube ao longo do ano, mas ainda não tem nada certo. Por ora, nós passamos o comando do futebol profissional para o Alan e ficamos apenas com a base.
Qual é a reflexão que fica após estes quase dez anos de trabalho?
— Eu acho que, na vida, é importante que a gente entenda o momento de começar e o de parar. Eu fiz aquilo que eu podia, fui até onde poderia ir e tive alguns bons resultados. Mas não tinha mais nenhuma condição de continuar. Para o clube não acabar, decidi passar o comando a alguém que tivesse essas condições. Eu sei que, se subíssemos para a primeira divisão naquele ano (2021), íamos fazer como muitos outros clubes aí: não teríamos condição de ficar na primeira divisão, iríamos cair e não voltaríamos mais. Então, agora, o clube tem uma chance de fazer diferente e melhor. O Alan teve ótimos resultados, respeitou todas as cláusulas do nosso contrato e é mais que merecida a nova oportunidade de subir nesse ano. Espero que ele consiga.
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